CONTAGEM REGRESSIVA: PRIMEIRO DIA DE CONCLAVE TERMINA SOB EXPECTATIVA

Mundo de olho na chaminé da capital mundial dos católicos romanos Os 133 cardeais eleitores reunidos na Capela Sistina encerraram o primeiro dia do conclave para eleger o novo Papa. Após uma manhã de orações e deliberações, a primeira votação foi revelada através da fumaça saída da chaminé na Capela Sistina, sob o olhar atento dos fiéis e da imprensa mundial, que acompanham cada movimento do processo sucessório. As portas da Capela Sistina se fecharam às 12h45 (horário de Brasília) de hoje, marcando o início formal da votação. Os cardeais, seguindo o cerimonial tradicional, depositaram seus votos, em um processo mantido em absoluto sigilo. A expectativa cresceu à medida que o tempo passava, com os olhos do mundo voltados para a chaminé da Capela Sistina. Na cédula que os Cardeais escrevem o nome do seu escolhido está escrito: “Eligo in Summum Pontificem…”, que em tradução do Latim assim sentencia: “Elejo como Sumo Pontífice…”. São necessários dois terços dos votos, ou seja 89 votos dos 133 presentes, para um Cardeal ser eleito ao posto de Papa. O protocolo exige que, após a votação, as cédulas sejam queimadas. A fumaça resultante é o sinal visível para o mundo sobre o andamento do conclave. Se a fumaça for branca, significa que um novo Papa foi eleito. Se a fumaça for preta, o processo continua. A praça de São Pedro, lotada de fiéis e turistas, aguarda ansiosamente o sinal pela fumaça branca. A tensão era palpável nas imagens transmitidas pelo Vatican News, com olhares fixos na chaminé e orações silenciosas. Às 16H00-horário de Brasília, às 21h00min de Roma, nesta terça-feira, 07 de maio de 2025, a fumaça PRETA começou a subir da chaminé. Os 133 cardeais eleitores ainda não escolheram o novo Papa. Para amanhã quinta-feira (08/05/2025) estão previstas mais quatro votações.

LATIM, O IDIOMA OFICIAL ENTRE OS CARDEAIS NA CAPELA SISTINA

Desde a entrada na Capela Sistina até o anúncio da Sacada da Bênção, há séculos a língua latina tem marcado os momentos decisivos da eleição do Papa. Mas, no caso do “nome pontifício”, não há uma escolha unívoca Se nas Congregações Gerais dos cardeais, a quem é confiado o governo durante a “Sé Apostólica vacante”, há um serviço de tradução simultânea, na Capela Sistina – do Extra omnes ao Habemus Papam – o latim volta a ser o protagonista como idioma oficial da Igreja católica. No Palácio Apostólico, todo o cerimonial da entrada para o Conclave, com os cardeais eleitores se deslocando em procissão da Capela Paulina até a Sacellum Sixtinum, o canto da Ladainha de todos os Santos, seguido pelo Veni Creator Spiritus, até a fórmula do juramento sobre o Evangelho feito por cada purpurado e, em seguida, o convite aos não autorizados a deixar o local que será “fechado a chave”, é marcado por fórmulas latinas estabelecidas pelo Ordo rituum conclavis. Extra Omnes Trata-se de “termos tradicionalmente nascidos e usados na língua latina, recebidos e conservados ao longo dos séculos para regular e definir com precisão essas passagens cruciais na vida da Igreja”, explica padre Davide Piras, que faz parte da equipe de scriptores da Secretaria de Letras Latinas do Vaticano.  O Extra omnes (Todos para fora), que na tarde de 7 de maio será “intimado” pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, o arcebispo Diego Ravelli, no final do juramento do último dos cardeais eleitores, é um convite aos estranhos ao Conclave para que deixem a Capela Sistina, já que a eleição papal é secreta. “É uma preposição seguida do caso acusativo que ordena que todos os presentes não autorizados deixem o local que está prestes a ser fechado”, explica o padre Piras. “A frase costumava ser pronunciada no início do Consistório secreto e nos estágios iniciais da assembleia conciliar, com o mesmo convite aos não autorizados para abandonar o local”. Eligo in Summum Pontificem… Até mesmo a cédula de votação usada na Capela Sistina, de acordo com a Constituição Universi dominici gregis, deve conter as palavras em latim: Eligo in Summum Pontificem (Elejo Sumo Pontífice) escritas na metade superior, enquanto a metade inferior é deixada para o nome da pessoa eleita.  Se, ao final da contagem dos votos, os três cardeais escrutinadores verificarem que um dos eleitores obteve pelo menos dois terços, a eleição do Papa é canonicamente válida. O Cardeal Decano, ou o primeiro dos Cardeais por ordem e ancianidade, pede o consentimento do eleito novamente com uma fórmula latina Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Aceitas a eleição como Sumo Pontífice?) e, a uma resposta afirmativa, ele acrescenta: Quo nomine vis vocari? (Como queres ser chamado?), uma pergunta à qual o eleito responde com o nome pontifício. “Temos o Papa!” Em seguida, o primeiro dos Cardeais Diáconos, o protodiácono – para este Conclave, o cardeal Dominique Mamberti – será encarregado, de acordo com o nº 74 do Ordo Rituum Conclavis, de anunciar da Sacada da Sala da Bênção da Basílica Vaticana, a eleição e o nome do novo Pontífice, que imediatamente depois dará a Bênção Urbi et Orbi. “O texto latino do chamado Habemus papam – explica padre Piras – é em parte inspirado no Capítulo 2º do Evangelho de Lucas, que traz as palavras do Anjo anunciando aos pastores o nascimento do Messias. A adoção dessa fórmula seguramente é anterior a 1484, ano em que certamente foi usada para a eleição de Giovanni Battista Cybo, que assumiu o nome de Inocêncio VIII”. “Ela remonta – explica o scriptor da Secretaria de Letras Latinas – à eleição do Papa Martinho V em 1417. Antes dele, de fato, para reivindicar a legitimidade de seu cargo pontifício naquele período atormentado, houve, devido a vicissitudes ligadas ao Concílio de Constança, até três papas”. “O anúncio – acrescenta padre Piras – poderia, portanto, naquelas circunstâncias, também soar como: ’Finalmente temos um papa, e apenas um!’”. Habemus Papam A fórmula completa inclui as palavras em latim: Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam! Eminentissimum ac Reverendissimum Dominum, Dominum (e aqui vai o nome de batismo do eleito no acusativo), Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinalem (aqui vai o sobrenome do eleito não traduzido para o latim), qui sibi nomen imposuit (e aqui vai o nome pontifício, seguido pelo número ordinal, se houver). Fórmula que pode ser traduzida para o português: “Eu vos anuncio uma grande alegria: temos o Papa! É o eminentíssimo e reverendíssimo Sr., Sr. … , cardeal da Santa Igreja Romana … que escolheu o nome …”. Mas a escolha do caso latino em que o nome do Papa é anunciado não é unívoca. Fórmulas diferentes, mas todas corretas “Se considerarmos o século passado e o atual – aponta padre Piras -, o anúncio do nome pontifício do novo papa foi feito pelo menos três vezes – para Pio XII, Paulo VI e Francisco – usando o caso ’acusativo’ latino e, portanto, as expressões Pium, Paulum e Franciscum. Enquanto que quatro vezes, para a eleição de João XXIII, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI, o protodiácono usou o “genitivo epexegético” e, portanto, as fórmulas Ioannis, Ioannis Pauli e Benedicti”. “O genitivo ‘epexegético’ – continua explicando o latinista da Secretaria vaticana – é o uso real do complemento de especificação, pois determina um conceito genérico. Quando, ao invés, o acusativo é usado, o nome do papa é gramaticalmente uma aposição e tem o mesmo caso que o nome ao qual se refere, ou seja, nomen, no caso da fórmula papal”. “Voltando ainda mais no tempo – acrescenta o scriptor -, descobrimos que no século XIX, para a eleição de Leão XIII e Pio IX, o nome papal foi anunciado com o caso nominativo – portanto, Leo e Pius – como um aposto do sujeito aqui. Uma escolha gramatical também feita em séculos anteriores. Em todos os casos, essas são fórmulas corretas, portanto alternativas, mesmo que para alguns o acusativo fosse preferível por uma questão estilística”. O número ordinal “No que diz respeito ao número ordinal – conclui o padre Piras -, o costume diz que ele só é pronunciado se o Papa eleito não for o primeiro a usar esse nome

COMEÇOU O CONCLAVE: CARDEAIS ESTÃO INCOMUNICÁVEIS NA CAPELA SISTINA

Após Missa Pro Eligendo Pontifice: “Que seja eleito o Papa que a Igreja e a humanidade precisam”, cardeais despojaram-se de aparelhos eletrônicos e adentraram à Capela Sistina, de onde sairá um eleito; os cardeais participam de até quatro rodadas de votação por dia, duas na parte da manhã e outras duas à tarde; as cédulas são incineradas duas vezes ao dia; até o 12º dia da votação, totalizando 34 escrutínios, o candidato que obtiver dois terços dos votos será eleito Presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, a Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, na manhã desta quarta-feira, 7 de maio, preparou espiritualmente o Colégio Cardinalício para a eleição do novo Sucessor de Pedro, com um apelo à orientação do Espírito Santo. Em sua homilia, o Decano destacou a importância da oração, do amor cristão e da comunhão eclesial. Concluiu com um apelo à unidade e à escolha sábia para conduzir a Igreja em tempos desafiadores. A Missa Pro Eligendo Romano Pontifice, celebrada na manhã desta quarta-feira, 7 de maio, na Basílica de São Pedro, marca o início do processo de eleição do novo Papa. Presidida pelo Cardeal Decano, dom Giovanni Battista Re, e concelebrada pelos membros do Colégio Cardinalício, o rito solene reuniu milhares de fiéis, que já vivem a expectativa pela escolha do Sucessor de Pedro. Em sua homilia, o Decano exortou os presentes à oração confiante, à escuta atenta do Espírito Santo e ao cultivo da comunhão fraterna: “Nos Atos dos Apóstolos, lê-se que, após a ascensão de Cristo ao céu e enquanto aguardavam o dia de Pentecostes, todos perseveravam unidos em oração com Maria, a Mãe de Jesus (cf. At 1,14). É exatamente isso o que nós também estamos fazendo, a poucas horas do início do Conclave, sob o olhar da Virgem Maria, colocada ao lado do altar nesta Basílica que se ergue sobre o túmulo do Apóstolo Pedro.” Invocar o Espírito Santo: atitude justa e necessária De forma serena e, ao mesmo tempo, precisa, o cardeal Re expressou o sentimento comum da Igreja neste momento decisivo: “Sentimos unido a nós todo o povo de Deus, com seu sentido de fé, de amor ao Papa e de espera confiante.” E acrescentou: “Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar sua luz e sua força, a fim de que seja eleito o Papa de que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil e complexo da história.” O Decano destacou o peso espiritual do momento e a gravidade da responsabilidade confiada aos cardeais eleitores: “Rezar, invocando o Espírito Santo, é a única atitude justa e necessária, enquanto os Cardeais eleitores se preparam para um ato de máxima responsabilidade humana e eclesial e para uma escolha de excepcional importância; um ato humano pelo qual se deve deixar de lado qualquer consideração pessoal, tendo na mente e no coração apenas o Deus de Jesus Cristo e o bem da Igreja e da humanidade.” Cardeal Re durante a homilia   (@Vatican Media) Amor: distintivo da fé cristã Ao refletir sobre o Evangelho proclamado na liturgia, o cardeal concentrou sua meditação na mensagem central da Última Ceia: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,13), e destacou que este ensinamento de Jesus é o verdadeiro distintivo da fé cristã: “O amor que Jesus revela não conhece limites e deve caracterizar os pensamentos e ações de todos os seus discípulos, que devem sempre demonstrar amor autêntico em seu comportamento e empenhar-se na construção de uma nova civilização — aquela que Paulo VI chamou de ‘civilização do amor’. O amor é a única força capaz de mudar o mundo.” Comunhão e fidelidade ao evangelho Referindo-se à qualidade fundamental dos pastores — o amor até a entrega total de si mesmos — o Decano afirmou que, nos textos litúrgicos da celebração eucarística, lê-se o convite ao amor fraterno, à ajuda recíproca e ao empenho em favor da comunhão eclesial e da fraternidade humana universal. E completou: “Entre as tarefas de cada Sucessor de Pedro está a de promover a comunhão: comunhão de todos os cristãos com Cristo, dos bispos com o Papa, e entre os próprios bispos. Não uma comunhão autorreferencial, mas totalmente orientada para a união entre as pessoas, os povos e as culturas — sempre com o objetivo de que a Igreja seja ‘casa e escola de comunhão’. Além disso, há um forte apelo à manutenção da unidade da Igreja, conforme o caminho indicado por Cristo aos Apóstolos. A unidade da Igreja, desejada por Cristo, não significa uniformidade, mas uma comunhão sólida e profunda na diversidade, desde que se mantenha a plena fidelidade ao Evangelho.” Ato de fé e responsabilidade “A eleição do novo Papa não é uma simples sucessão de pessoas, mas é sempre o Apóstolo Pedro que retorna”, afirmou Re, reiterando que o Papa “é a rocha sobre a qual a Igreja é edificada” (cf. Mt 16,18).  Referindo-se ao local onde os cardeais expressarão seu voto, o Decano destacou que “os cardeais eleitores expressarão seu voto na Capela Sistina, onde, como diz a Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, ‘tudo concorre para avivar a consciência da presença de Deus, diante do qual deverá cada um apresentar-se um dia para ser julgado’.” E evocou as palavras do Papa São João Paulo II no Tríptico Romano: “Nas horas da grande decisão através do voto, a imagem imponente de Cristo Juiz, pintada por Michelangelo, lembrará a cada um a grande responsabilidade de colocar as ‘chaves supremas’ nas mãos certas.” Basílica de São Pedro durante a celebração   (@Vatican Media) O mundo de hoje espera muito da Igreja Ao concluir sua homilia, dom Giovanni Battista Re fez um apelo confiante à oração de toda a Igreja: “Oremos para que Deus conceda à Igreja o Papa que melhor saiba despertar as consciências de todos e as energias morais e espirituais na sociedade atual, caracterizada por um grande progresso tecnológico, mas que tende a esquecer Deus. O mundo de hoje espera muito da Igreja para a salvaguarda daqueles