Empresário faleceu nesta quinta-feira (25) em Chapecó
É difícil encontrar alguém que mora em Chapecó ou tenha passado pela maior cidade do oeste catarinense que não conheça o monumento “O Desbravador”. Ele está localizado bem no coração da cidade, no canteiro central, ao lado da Catedral Santo Antônio.
Mas você conhece a história deste símbolo de Chapecó? O idealizador foi Victorino Zolet, que faleceu neste 25 de julho de 2024.
Mostramos a seguir um estudo feito pelo jornalista Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira, em pós-graduação no ano de 1996.
Essa pós-graduação em Comunicação Social foi ministrada de julho de 1995 a setembro de 1996 pela Universidade do Oeste/Campus Chapecó e Universidade Metodista, de São Paulo.
O MONUMENTO “O DESBRAVADOR” COMO SÍMBOLO DA CIDADE DE CHAPECÓ
* Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira,
Jornalista, professor universitário e empresário, graduado em Jornalismo e em Administração, Pós-graduado em Comunicação Social e Publicidade e Propaganda e diretor da Extra Comunica,
Chapecó, mar/1996
O monumento “O Desbravador” é resultado de uma proposta do Lions Clube Chapecó, idealizada por um de seus integrantes, o empresário Victorino Zolet, que já ocupou importantes posições de liderança no município, inclusive a presi-dência da Associação Comercial e Industrial. Ele propôs a ideia no seu clube de serviço em 4 de setembro de 1980. Na proposição, destacou três considerações especiais: que um monumento em praça pública se destaca como marco de cultu-ra de um povo; que através de tal monumento poderiam ser homenageados cida-dãos de destaque, ligando o passado ao presente e projetando para o futuro a história de um povo; e que já existia um troféu “O Desbravador”, entregue pela Prefeitura de Chapecó às maiores empresas do município.
A partir das considerações iniciais, Zolet argumentava sobre a idéia de que se erguesse em praça pública “um monumento ao estilo ‘O Desbravador’ tendo como finalidade dar vazão a artistas de nossa terra na execução da obra e principal-mente homenagear (sem citar nomes) todos os antepassados e desbravadores, que, com seu trabalho, sua coragem e persistência fizeram nascer e desenvolver nossa cidade e a região Oeste de Santa Catarina”. Para ele, tal monumento ad-quiriria um significado todo especial, seria visto e apreciado pelas famílias dos pioneiros e descendentes e “motivo de orgulho para a nossa juventude e um mar-co a mais a destacar e difundir nossa cidade”.
Na mesma proposição, o Lions Clube Chapecó se propunha a participar de todas as atividades para a construção do monumento, inclusive na elaboração do projeto e no encaminhamento para aprovação na Câmara de Vereadores. Se re-servava, como mentor da idéia, apenas “o direito de fazer constar no pedestal do monumento, além dos dizeres alusivos à obra, de que o trabalho em pauta é fruto de um ideal de Lions”.
Victorino Zolet, que soma hoje 34 anos de atuação no Lions Clube, afirma que sempre procurou participar das convenções leonísticas, tanto no Estado como fora dele, e sentia a necessidade de algo representativo para divulgar a cidade e seu povo. O ponto principal utilizado até então, lembra, era a catedral, e para ele faltava “um marco para a cidade”. Veio-lhe, então, a ideia do monumento.
O passo seguinte, após a aprovação unânime da proposta no clube, foi enca-minhá-la ao prefeito municipal, na época Milton Sander. Isso foi feito em 24 de setembro de 1980, tendo recebido a imediata aprovação do chefe do Executivo do município.
Em 27 de outubro de 1980, pelo decreto GP 197/80, era constituída a Comissão de Construção, integrada pelo próprio proponente da ideia e pelos secretários municipais Hilton Rôvere, da Educação e Cultura, Osny Tolentino de Souza Fi-lho, de Obras, e Elvino Bedin, do Meio-Ambiente e Serviços Urbanos.
O local definido para situar o monumento foi o canteiro central da Avenida Ge-túlio Vargas, próximo à esquina com a Rua Mal. Floriano Peixoto, ao lado da Ca-tedral Diocesana e próximo ao marco que assinala os quatro pontos cardeais, no centro da cidade. Zolet, o idealizador da obra, havia previsto um monumento em dimensões reduzidas, mas por consenso do prefeito e da própria comissão, ela foi erigida em tamanho monumental. Para isso também recebeu o incentivo do pró-prio criador, o artista plástico Paulo de Siqueira, autor do troféu “O Desbravador”, que é entregue às principais empresas industriais e comerciais de Chapecó em agosto, por ocasião da Semana do Município.
O monumento foi construído, assim, com uma altura total de 14 metros, sendo a base de 3, em alvenaria, e a escultura, em ferro, de 11 metros. Tem 5,7 metros de largura e um peso de 9 mil quilos. Sua inauguração deu-se em 25 de agosto de 1981, numa solenidade especial dentro da Semana do Município, com a pre-sença de muitos pioneiros que ajudaram a desenvolver o município. A identíficá-lo, somente o título do monumento e o nome do criador da grande escultura, fi-cando fora a identificação do clube de serviço idealizador.
Um documento da Assessoria de Imprensa e Comunicação Social da Adminis-tração Municipal, da Gestão 1989/92, assinala os seguintes objetivos do monu-mento “O Desbravador”: homenagear a memória dos desbravadores que aporta-ram em Chapecó, acreditando na terra e no homem do Oeste e lutaram com amor e dedicação, desenvolvendo o município e a região e, por isso, merecem de todos o reconhecimento pelo trabalho, pela fé e pela bravura demonstrada”.
O mesmo documento descreve o monumento como um desbravador, em pé, com chapéu e vestes características, empunhando na mão direita um machado apoiado ao chão, representando o principal instrumento de trabalho utilizado para subjugar o meio hostil, e na mão esquerda um louro, simbolizando a vitória, a conquista. “Representa o homem forte, altruísta, corajoso, trabalhador, cujo perfil marcou o elemento humano que ocupou e transformou o Grande Chapecó”, finaliza o texto.
DEPOIMENTOS
Depoimentos de autoridades e outras personalidades representativas da cidade coincidem no aspecto de que o monumento “O Desbravador” se transformou num símbolo da cidade. O próprio prefeito da época em que a obra foi erguida concor-da com isso. Para Milton Sander, por sua expoência e pela representatividade que foi adquirindo, o monumento representa um forte símbolo da cidade.
Para o idealizador do monumento, o mesmo atualmente tem “uma aceitação muito boa”. Um dos primeiros empresários do ramo fotográfico na cidade, Victori-no Zolet diz identificar atualmente o reflexo dessa aceitação pela procura de fotos do monumento em seu estabelecimento, onde sente a admiração pela beleza e pela imponência da obra. “A grande maioria gosta e acha que o monumento re-almente é um marco da cidade”, afirma. Em sua opinião, a obra homenageia to-dos os desbravadores, inclusive os que hoje chegam à cidade para implantar no-vas atividades. Para Zolet, a tendência do monumento é cada vez mais se firmar como símbolo de Chapecó, tanto histórico, como cultural e econômico. Analisan-do o monumento em suas características físicas, expõe que “transmite força, po-tência, segurança, também colocando nos jovens um sentimento de orgulho pelo que os pioneiros fizeram”.
O autor do monumento concordava que ele representa um símbolo da cidade, e até da região. Paulo de Siqueira lembrava que os primeiros desbravadores en-contraram somente caboclos e índios na região, a colonizaram e desenvolveram. Representativamente, o artista disse que o monumento identifica o desbravador da região, tendo na mão direita o machado, representativo do instrumento de tra-balho, associado principalmente a uma das primeiras atividades econômicas da região, a extração da madeira. Na mão esquerda está um ramo, significativo da vitória pelo trabalho.
Para a historiadora Eli Bellani, mestre em História, professora da Universidade do Oeste de Santa Catarina/Campus de Chapecó e ex-diretora do Departamento Municipal do Patrimônio Histórico, o monumento “é símbolo porque representa todo um processo do passado”. Em sua opinião, as dimensões exageradas tam-bém contribuíram para que se transformasse num marco da cidade. “Seu simbo-lismo está marcado”, afirma. Eli discorda, entretanto, de que representa os novos pioneiros que vêm para a cidade implantar novas atividades. Em sua avaliação, “O Desbravador” representa os pioneiros da colonização, principalmente no as-pecto da exploração da terra.
A utilização do monumento na representação de eventos vem ocorrendo com assiduidade pelo artista plástico Xiko Bracht. Desenhista e escultor, ele diz já ter aplicado as formas de um desbravador implantadas no monumento em cerca de uma dezena de cartazes ou troféus de eventos, desde a maçonaria até o esporte, sempre usando uma mesma linha visual. Para Xiko, “queira ou não, como a está-tua do Laçador representa Porto Alegre, Chapecó é representada pelo monumen-to aos desbravadores”. Ele afirma ser um símbolo de resolução rápida, possibili-tando várias maneiras de representá-lo. Como o autor da obra, lamenta que a conservação não seja feita de forma adequada e diz que a comunidade deve pre-servá-la.
CONCLUSÃO
Avaliando as definições de signo e símbolo, conclui-se que o monumento si-tuado em Chapecó para homenagear os desbravadores é realmente um símbolo. Contém informação, mas não é esclarecida explicitamente, e é identificado por semelhança. Tem um conteúdo representativo, de um personagem, cuja origem é identificada em uma placa ao pé do monumento. Conceitualmente, ele substitui uma idéia abstrata, ou seja, outra coisa que representa. Possui, enfim, um apelo alegórico aos pioneiros do município e da região, figurando como um elemento concreto que provoca o imaginário das pessoas.
O monumento “O Desbravador” cumpre o papel de símbolo igualmente porque é o elemento mais associado ao ser feita uma representação da cidade. Anterior-mente à sua construção, era especialmente utilizada a Catedral e com o surgi-mento do monumento esse uso foi paulatinamente sendo reduzido. Pelo cons-tante uso do monumento na identificação da cidade, na representação de even-tos que nela se realizam, pelo uso em troféus e publicações, e por ser único, é realmente um símbolo eficiente a identificar a cidade de Chapecó.
Foto: Arquivo PMC