Projeto Caminhos do Trabalho revela que 82% dos casos atendidos até 2025 têm nexo comprovado com o ambiente de trabalho
Oito em cada dez acidentes e adoecimentos relacionados ao trabalho têm ligação direta com as condições laborais enfrentadas pelos trabalhadores no Brasil. A constatação é do projeto Caminhos do Trabalho, coordenado pela Fundacentro, que já atendeu mais de mil pessoas até junho de 2025. Desses atendimentos, 93,6% relataram ter sofrido agravos à saúde relacionados ao trabalho, e em 82,3% dos casos foi possível confirmar o nexo entre a atividade exercida e o problema de saúde.
Os dados foram apresentados durante o II Encontro Nacional do projeto, realizado em Salvador, e revelam um retrato preocupante da saúde do trabalhador. Os principais agravos relatados foram osteomusculares e psíquicos, ambos com 46% dos casos — com nexo comprovado em mais de 84% deles. Entre os fatores apontados pelos trabalhadores estão movimentos repetitivos (77,7%), uso de medicamentos (71,6%), ritmo acelerado (58,4%), tristeza persistente (52,3%) e assédio no ambiente de trabalho (38,6%).
A maioria dos atendimentos ocorreu em Minas Gerais, Bahia e Santa Catarina, mas o projeto abrange 17 unidades da federação e já acompanhou casos em 165 municípios de 305 atividades econômicas distintas. Os atendimentos chegam por diversas vias: indicação de colegas de trabalho, hospitais da rede pública (Ebserh), sindicatos, Cerest, Caps ou busca ativa da própria equipe do projeto.
O Caminhos do Trabalho oferece serviços gratuitos como orientação jurídica, atendimento médico com foco na avaliação do nexo entre agravo e trabalho, emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e apoio nas áreas previdenciária e trabalhista. A iniciativa é realizada em parceria com universidades públicas em 13 cidades do país.
O evento também contou com debates sobre os desafios enfrentados para o reconhecimento dos adoecimentos laborais, especialmente os de origem psíquica, e abordou obstáculos no acesso a benefícios do INSS. Pesquisadores, médicos, juristas e procuradores do trabalho discutiram estratégias para enfrentar o negacionismo patronal, aprimorar as perícias e garantir direitos aos trabalhadores, inclusive aos autônomos.
Na mesa de abertura, autoridades como o presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho, e representantes da Justiça do Trabalho e da fiscalização trabalhista destacaram a importância da atuação integrada para enfrentar a subnotificação e o adoecimento invisível nos ambientes laborais.
O projeto reforça a urgência de políticas públicas voltadas à prevenção de acidentes, valorização da saúde mental e responsabilização de empregadores que descumprem normas de segurança. A atuação articulada entre Fundacentro, universidades, sistema de saúde e Justiça do Trabalho é apontada como fundamental para transformar essa realidade.
Fonte/foto: Agência Gov | Via Fundacentro
