PESQUISA FOMENTADA PELA FAPESC DESENVOLVE TECNOLOGIA PARA COMBATER A GRIPE AVIÁRIA

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Em ambiente controlado, estruturas celulares desenvolvidas na UFSC permitem a observação detalhada da ação do vírus da gripe aviária, contribuindo para o avanço da pesquisa em saúde animal

Uma inovação científica desenvolvida em Santa Catarina promete transformar a forma como o Brasil enfrenta uma das maiores ameaças à sua avicultura: a gripe aviária. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado (Fapesc), criaram organoides que imitam o sistema respiratório de galinhas. Essa tecnologia permite simular infecções pelo vírus H5N1, causador da gripe aviária, em laboratório, sem a necessidade de infectar aves vivas.

A criação dos organoides — estruturas celulares tridimensionais que reproduzem a função de órgãos reais — representa um avanço inédito no Brasil e coloca Santa Catarina na vanguarda da pesquisa em saúde animal. Em um estado onde a avicultura é um dos pilares da economia, qualquer ameaça sanitária pode gerar prejuízos em larga escala, afetando exportações e a segurança alimentar. Com essa nova ferramenta, os cientistas conseguem estudar o comportamento do vírus em condições controladas, seguras e de baixo custo, acelerando a busca por tratamentos e estratégias de prevenção.

Além da eficiência científica, a tecnologia também traz benefícios éticos e logísticos. O uso de organoides elimina a necessidade de instalações de biossegurança de nível 3 — exigidas para manipulação do vírus vivo — que são raras e de alto custo no Brasil. Cultivados em placas de Petri, esses modelos celulares permitem a realização de centenas de testes simultâneos, com resultados em tempo real. Isso possibilita, por exemplo, observar de forma imediata os efeitos de possíveis medicamentos, algo inviável em experimentos com animais.

A ideia surgiu de forma inesperada, durante uma visita do coordenador da pesquisa, professor Ricardo Castilho Garcez, a uma granja no município de Lauro Müller. A busca por ovos para outros experimentos inspirou uma retribuição científica ao setor produtivo, dando origem ao projeto que agora pode trazer respostas rápidas a uma crise sanitária que se aproxima. A recente confirmação do H5N1 no Rio Grande do Sul acendeu o alerta, e iniciativas como essa se tornam fundamentais para antecipar soluções.

O projeto integra o Programa de Pesquisa Universal da Fapesc, que no edital 21/2024 destinou R$ 57 milhões ao apoio de iniciativas com foco em inovação, sustentabilidade e impacto social em Santa Catarina. A equipe da UFSC já desenvolveu organoides com estruturas semelhantes aos alvéolos pulmonares das aves e agora trabalha para validar a presença e a organização dos tipos celulares necessários para os testes com o vírus. A próxima etapa será conduzida em parceria com o Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz, no Paraná.

Com resultados promissores, a expectativa é que essa tecnologia não apenas melhore o entendimento sobre a gripe aviária, mas também abra novas frentes de estudo para outras doenças respiratórias que afetam a avicultura. Em um cenário de desafios sanitários crescentes, a ciência produzida em Santa Catarina se consolida como um dos principais escudos de proteção à agroindústria brasileira.

Foto: Arquivo Ricardo Castilho Garcez / UFSC